A HISTÓRIA DE IBICARAÍ
Nós somos a CIDADE!!!
Américo do Paraguaçu
(Cordel em homenagem a um homem de fibra)
Por sua filha: Maria Reis Gonçalves.
(Tia Nem)
No sertão da minha terra,
Lá pros lados de Jacobina,
Um menino sonhador
Viu que a vida era pequena.
Fugiu cedo da roça dura,
Levando só a alma pura,
E a esperança nordestina.
Com dezessete nos ombros
E o peito cheio de ardor,
Chegou em Ibicaraí
Trazendo sonho e labor.
Com a navalha na mão ligeira,
Foi moldando a vida inteira
No ofício de barbeador.
Na cidade conheceu
Valdomira, flor formosa,
Moça clara, andaluza,
De beleza tão garbosa.
Mas a mãe, dona Ana severa,
Proibiu, virou fera —
"Esse moço? Que afrontosa!"
Mulato, pobre e da roça,
Que futuro poderia dar?
Mas o amor, quando é valente,
Não se deixa acorrentar.
Os dois fugiram de repente,
Casaram-se docemente
Num lugar de abençoar.
Voltaram de mãos unidas,
De peito aberto e fé no chão.
Na Rua do Paraguaçu,
Ergueram casa e coração.
E Américo, com sua lida,
Fez da tesoura uma vida
E da barbearia um salão.
Ali vinham os amigos,
Pra prosear e cortar cabelo,
Política, riso, causos
E o calor do bom novelo.
Foi nomeado delegado,
Por Dr. Henrique Sampaio estimado,
Homem justo, sem apelo.
Teve quatro rebentos,
Todos criados com amor:
Creuza, a mais velha florida,
Beta com seu doce humor,
Nenê de riso contido,
E o caçula destemido,
Américo, do mesmo ardor.
Mas não vivia só de corte,
Seu peito era um tamborim:
Tocava cavaquinho,
Violão e bandolim.
Nas noites de serenata,
Fazia a cidade ingrata
Se render ao seu clarim.
Era boêmio e amigo,
De alma leve e gentil.
Na barbearia passava
O povo mais varonil.
De Almir a Raimundo Cordeiro,
Henrique, Atanagildo inteiro,
Faziam dali seu cantil.
Em mil novecentos e setenta,
Deixou-nos cedo demais,
Mas ficou sua memória
Nos corações leais.
Deixou exemplo e ternura,
Com sua vida tão pura
Nas lembranças dos mortais.
Américo do Paraguaçu,
Homem de fibra e paixão,
Hoje vive eternamente
Na lenda e na tradição.
E quem passa na calçada
Sente a alma encantada
Do mestre do tesourão.
Foto e texto de Maria Reis Gonçalves.
Arte e adm da pág de ACRS
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